“(…)
A malta não sabe, mas a malta é porreira, pá, e para que é que essas coisas servem, não me dirão?
E ainda mais assustador era a frase que fatalmente se seguia a qualquer pergunta de ordem política («que é o presidente da Comissão Europeia?», «Como se chama a chanceler alemã», «em que ano dói o 25 de Abril», etc.): «Eu em política não me meto.».
Com se isso fosse um motivo de grande orgulho. Assim como se dissessem «eu não me drogo».
FAZER POLÍTICA e PARTIDOS
Acontece que muitos de vocês confundem «fazer política» com «fazer política partidária». Esta última fará (ou não) quem quiser (ou não).
Mas «fazer política» todos fazemos, desde que acordamos até que adormecemos. Até mesmo quando dizem «eu em política não me meto» estão a fazer política.
Em tempos passados, antes de 1974, quando era proibido falar de guerra colonial, o Padre António Morão, do Fundão, foi chamado às altas instâncias acusado de estar «a falar da guerra e portanto a fazer política». Ao que ele respondeu apenas: «E se eu calasse, não estava a fazer política também?». Quando as coisas não nos tocam diretamente, é sempre muito fácil fazer de conta que não é nada connosco, «eu em política não me meto». Mas a verdade é que é sempre connosco.
Por isso decidi hoje, neste princípio de ano em que é sempre bom refletir sobre o ano que findou e esperar melhores tempos para o que acaba de entrar – trazer aqui as palavras sábias de Martin Niemoller, um símbolo da resistência ao nazismo na Alemanha:
«Primeiro vieram buscar os judeus, e eu não me incomodei porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei pois não era comunista.
Levaram os liberais e também encolhi os ombros: nunca fui liberal.
Em seguida os católicos – mas eu era protestante.
Quando me vieram buscar a mim, já não havia ninguém para me defender.».
(…)
Para que, da próxima vez que uma jornalista lhes aponte um microfone, vocês pensem duas (três, cem, mil) vezes antes de responderem «eu em política não me meto».
Com o ar de quem se orgulha muito da asneira que diz.”
Rui Costa (fundador da AJCL e um ativo cristão) dizia há alguns anos algo parecido com isto:
“Um político pode não ser cristão mas um cristão tem de ser político”.
Luís Brandão
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